SILÊNCIO - V

 
Achou-se muito calada. O silêncio na mente era algo a que não estava habituada. E, nessa quietude, sentiu-se amada.

DOR

- Estás bem?

- Não.

- Dói-te a cabeça?

- Não. Dói-me um bocadinho a vida.

DESPEDIDAS

Foram-se embora e até o tempo entristeceu, enevoou-se e choveu, porque já não tinha a quem oferecer o sol.

INSTABILIDADE

Como não andar instável nesta indecisão climática em que as estações são agora entidades indefinidas? Muito resiste a natureza:  as árvores aguardam para não se desnudarem nas invernias que invadem o fim da Primavera,  aceitando a mudança do que antes  parecia bem estabelecido.

SERENIDADE - V

Não te agarres à palavras, mas também não as temas. Deixa-as construir pensamentos, que deixarás fluir, deles te distanciando.

É isso a serenidade.

Nome de rio

Se tem o nome de um rio, como não se mover?

Atravessarás todos os meandros até abraçares o mar para o adoçares com a tua energia.

ESCULTURA - III

Afago estes corpos de barro. Deslizam as mãos na memória das tuas que os criaram. Neste silêncio triunfa a emoção do gesto, já que as palavras, agora como então, são desnecessárias.

Escultura de Dario Boaventura (1923-2013)