sexta-feira, 23 de maio de 2014

MEMÓRIA - III

Trazem-me, as palavras, a tua memória. Soltam-se das frases que outros dizem, porque eram tuas. E, de forma inesperada, a lágrima rola.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

As ruas da minha cidade

Passo e não olho. De tal forma é o hábito que descuido as mudanças. Ignoro as fachadas, as tonalidades, as gentes. No entanto, quando a cidade não é a minha, apodero-me dos mais ínfimos pormenores.

E numa estátua que não conhecia, apercebi-me desta indiferença.

quarta-feira, 21 de maio de 2014

PRIMAVERA - III

Ainda não fui buscar as luvas, mas o casaco comprido já cá canta.

Não pertenço ao grupo dos destemidos que continua a exibir os calções, as sandálias e até mangas caveadas. Como um qualquer desporto radical, desafiam a intempérie.

Quem sabe, conseguem acordar, a Primavera indecisa.

terça-feira, 20 de maio de 2014

O tempo - IV

Um dia é Verão
Outro é Inverno
É uma grande confusão
Este tempo é um inferno
Bom para a constipação.

Gabardina e guarda-chuva
Resgatei-os do armário
Amanhã pego nas luvas
Fica completo o fadário.

Se alguma benesse tem
Este tempo sem remédio
É quebrar um pouco o tédio
Do nosso eterno vaivém.

quarta-feira, 14 de maio de 2014

RETRATO

Apoia-se na bengala, a ver passar a vida. Ao lado, a mulher atarefa-se na procura de um papel perdido. Revolve a carteira. Ele, imperturbável, olha quem passa.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

As palavras – VII

Fotografo com as palavras. Um instantâneo de frases se constrói quando observo, resgatando emoções. 

quinta-feira, 8 de maio de 2014

DESAPARECIDOS

Primeiro o relógio. Depois a pinça. Os objectos desaparecem, cansados da dona que os abandona em qualquer lado.

Às vezes os óculos fazem-lhes companhia, qual paus-de-cabeleira, no entanto regressam, fiéis à presbiopia da proprietária, ou ao empenho com que são procurados.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

IMAGENS - IV

Não são as imagens que faltam, mas as que sobram. Que assomam, assombram, sonhos e pensamentos. As imagens do que já não eras. Da solidão agarrada a gestos inúteis. Do vazio das mãos, outrora poderosas.

terça-feira, 6 de maio de 2014

As mãos - III

Extensão do olhar, dominando o pincel, as mãos dançam na tela. Que música as faz mover?










sábado, 3 de maio de 2014

ESCRITA - III

Também a escrita segue o popular adágio do comer e do coçar. Uma vez iniciada a aventura, as palavras impõem-se, abraçam o quotidiano, seduzem o pensamento.