quarta-feira, 30 de julho de 2014

PARTIDA

De alguma forma tinhas partido algumas semanas atrás, numa noite que seria de festa no Porto, e em que faria seis meses que o teu irmão mais velho nos tinha deixado.

Não sei este tempo, maior que o de outros, mais curto que o de outros tantos, é de preparação para a partida, para quem vai ou para quem fica. Se é um tempo de hesitação, suspenso, se é uma longa insónia, ou uma habituação à dor.

É um mistério, levado por quem parte.

terça-feira, 29 de julho de 2014

A voz humana

Instrumento supremo. Como os outros, demora-se na afinação, sustém-se na modulação do som, subjuga-se à partitura. Como nenhum outro desarmar-nos a emoção, transportando-nos ao âmago.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

A Mia na floreira

Aberta estava a janela
Que reina sobre a floreira
Mesmo a chamar por ela
E a Mia saiu lampeira.

Olha para todo o lado
Esfrega o nariz nas flores
Este arejo foi um achado
Novos são estes odores.

Com os sentidos alerta
Permanece na floreira
Pois não quer estragar a oferta
Fazendo uma tola asneira.









domingo, 27 de julho de 2014

PORTO - II

O Porto está diferente. Ganhou a vida das línguas que não falava e das cores que não vestia. Exibe-se para as fotografias, numa alegria redentora. 

sexta-feira, 25 de julho de 2014

OM

Penetro no som. Na emoção de um qualquer retorno. Abandono-me na força da voz humana. Demoro-me, pois aqui pertenço.

sábado, 19 de julho de 2014

Pessoas e gatos - II

As duas em cima da cama. As mesmas preocupações de higiene e beleza. Os mesmos gestos lentos. Só que enquanto a Mia é auto-suficiente, eu socorro-me de um boião de creme.








sexta-feira, 18 de julho de 2014

As palavras - VIII

São de espanto estas palavras. De tão pouco usadas, quase inventadas, sinto que te pertencem. E, fugaz, como a minha voz que as pronuncia, sinto a tua presença.

domingo, 13 de julho de 2014

As flores - II

Sempre gostei das flores.

Quando era pequena gostava de as colher, de soprar nos dentes-de-leão, de desfolhar os malmequeres.

Hoje, prefiro não as desinquietar. Fico-me pelas imagens.








quarta-feira, 9 de julho de 2014

LIVROS

Viver vidas que não me pertencem. Durante algum tempo, os personagens e o seu enredo, o meu enredo. Cria-se a ilusão de um outro eu.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

FOTOGRAFIAS

Parados no tempo estão rostos e sorrisos. Um brilho no olhar que já não existe. Por isso dolorosas, até nas paisagens.

sábado, 5 de julho de 2014

ESTRANHEZA - II

Conhecemos as pessoas. Achamos que conhecemos. Mas de repente, pintadas por outras mãos, desnudadas em palavras íntimas vindas de outras bocas, já são outras.

E o que ouvimos não se adapta ao nosso quadro. Como uma peça que não encaixa no puzzle que construímos.