quarta-feira, 31 de agosto de 2016

CAVALOS

Ali estão eles pastando, indiferentes aos intrusos que se aproximam. O potro, curioso, olha-nos. Estão serenos. Abanam o incómodo das moscas no agitar das caudas, nos movimentos lentos, nos reflexos do rio. Afastam-se, imponentes, já que os intrusos, armados de câmaras e tripés, vieram para ficar.









segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Nascer do sol

Privilégio dos insones, ver nascer o sol é para mim um desafio. Vencido o apelo da cama, feitas as tarefas matinais num atordoamento pouco habitual, saio de casa.
Descobrimos que não estamos sozinhos. São os peregrinos: os verdadeiros. Nós, de carro, somos os da fotografia.
Subimos ao Sobral da Ermida, ganhando a luz à medida que noite adormecia. Percebemos que o local escolhido não era o melhor: um monte em frente não deixou ver o esplendor da chegada do astro-rei. E já não havia tempo para mudar de posição. Mas assistimos ao seu acordar, no lento alastrar da luz dourada nos montes, nas luzinhas que se apagavam, no enlevo da paisagem.
Descobrimos um miradouro para uma próxima observação.














domingo, 28 de agosto de 2016

ÓCULOS – IV

- Tenho de ver a minha vida. – Disse ela.
E foi buscar os óculos. Limpou-os. Não melhorou. Riu-se do engano: aqueles não eram os óculos de ver a vida.


quinta-feira, 25 de agosto de 2016

PRAIAS

- Depois vou lá visitá-la, quando acabarem as praias.
Ficou a pensar que tipo de catástrofe seria necessária para que a visita se realizasse.




quarta-feira, 24 de agosto de 2016

MELANCOLIA

É isto a melancolia: os teus olhos de menino que se perdem na barba de homem feito. E a vida que passa, entre partidas e chegadas.


terça-feira, 23 de agosto de 2016

Festival de jardins

Multiplicidade de cores e formas, enquadradas na arquitectura. As flores são muitas, mas não deixam de ser únicas.
















domingo, 21 de agosto de 2016

INCÊNDIOS

E o verde se fez negro: fez a ganância o degredo. A chuva já não traz o odor a terra molhada: é redentora do fumo, que emana do ventre queimado. Neste universo desolado, há vida que ainda resiste.










domingo, 14 de agosto de 2016

Corpinho bem feito

Ia em corpinho bem feito. O corpinho mal feito, todo ataviado, vestido até às orelhas, ficava em casa a aguardar dias mais frios.






segunda-feira, 8 de agosto de 2016

MOSQUITOS

Mosquitos inquietos
esperam o meu sossego
para em voos circunspectos
assombrarem o meu sono.
Rendo-me
mudo de quarto
mas,  esmerados estrategas,
noutra divisão os encontro.
Quase me tocam,
mas não,
não durmas, pensa na vida,
tão divertida,
e, mal acendo a luz
como que se evaporam.
E mudo mais uma vez
até que os quartos se esgotam.
Termino no sofá da sala
onde, talvez numa risada trocista,
acedem a que entregue ao sono.

Créditos Internet



domingo, 7 de agosto de 2016

MOMENTO - II

Haveria de lembrar-se desse momento: uma certa brisa, a cicatriz das árvores, uma sombra que perdura antes do abandono do sol. Haveria de lembrar-se desse momento, bálsamo para qualquer tempestade.