SIMPLICIDADE

Na inutilidade dos dias aprenderia a simplicidade das pequenas coisas.

PRESENÇA

Observo. O turbilhão das palavras, a rudeza da entoação, a impaciência dos gestos. Tudo coado pelos auscultadores, na serenidade da música. É outro mundo, no qual, memória curta, facilmente me deixo cair. Por isso, procuro guardar estes laivos  de presença. 

CONTEMPLAÇÃO

Aqui, na contemplação do verde, no abrigo das árvores que já conquistaram o céu, nada parece impossível. Catarse das incertezas, cristalizo o momento, adiando o regresso à agitação.

Divagando no verde

Geometria dos pastos num verde tão verde. Invejo a serenidade das vacas mastigando o tapete. O nevoeiro galopa um ambiente de mistério, engolindo, de forma abrupta, o sol e os prados. Mas entre as fímbrias da neblina, uma luz atravessa a erva, devolvendo-lhe a luz.

TERCEIRA

Casinhas brancas, debruadas de cores, intercalam a imensidão do verde. Esquecemos a humidade, a chuva em demasia, porque nos dá este verde único que se abandona no mar, onde os guardiães de lava protegem a ilha.

PAPEL

Antes da harmonia das ideias: a inutilidade do papel. Só depois a escrita é mágica, devolvendo às palavras o sentimento que transborda.

INTERMITÊNCIAS

Aparece e desaparece com o mesmo esplendor. Quando vem traz-nos as cores da vida, que nos deixa à despedida, na promessa do retorno. E assim a noite se faz suave.

MOMENTO - III

Aqui, no enleio do verde, no abrigo das árvores que já conquistaram o céu, nada parece impossível. Catarse das incertezas, cristalizo o momento, adiando o regresso ao desalinho.

Sem abrigo

Perco um bocado da minha humanidade quando atravesso estas ruas onde vocês dormem em casinhas de papelão. Abala-me de imediato a violência de dormir ao frio, o frio a que vocês não dão tréguas. E o saber que por mais que vocês me doam, não demorará muito a que vos esqueça, e me entregue às minhas dores.