UNIQUENESS

We are unique.

We should not be afraid to sprout as single flowers. Sometimes it is the best place for blessing the sun.

ENCONTRO

Já sabia o que lhe ia dizer: roubara as palavras aos dias solitários. Já sabia de cor o seu rosto: as cores dançavam em todas as paisagens. Conhecia toque da sua pele: experimentado em infinitas carícias. Só lhe faltava encontrá-la.

LIVRO

Aqui eu sonho, emociono-me, desespero. Aqui adopto personagens em vidas fictícias que só podem ser reais. 

Terra molhada

De que se impregna, a terra molhada, para libertar este aroma que apazigua a alma?

OSCILAÇÂO

Se é lei da natureza, no correr das estações, no ciclo do dia, nas flutuações do corpo, porque não hei-de ter marés? Porque não, afogar-me em lágrimas, para acordar gargalhadas?

TEMPO - VII

O tempo não se compadece das memórias. Onde queríamos permanência, inventa mudanças. Onde procuramos a anestesia do esquecimento, afronta-nos com velhos hábitos.

PASSOS

A hesitação do passo. Há muitos anos atrás, no desequilíbrio da conquista. Agora, vencidos anos de vida, no balanço de uma cada mais temporária permanência. Trocado o apoio dos braços que te recebiam, pelo de um inerte apetrecho de madeira.

RELÓGIO - III

Olhou para as inúmeras peças de um relógio esventrado: é irrecuperável. Tudo é irrecuperável. Mesmo que pudesse continuar a anunciar horas e minutos na certeza da cadência, nada se repete em cada segundo que se esvai.

SINAIS

O cão não ladra, não há flores na janela.

Ainda não desceu o pó dos dias, mas há uma aridez nos objectos, onde a madrugada se esqueceu de inventar sorrisos.

SIGN

Read the sign the old man said: you turned right and was left instead.

ATELIER

E magia acontecia. O barro líquido enchia a forma como se fizéssemos bombons de chocolate. E ainda acontece quando olho as peças que deixaste.

Não sei porque não aprendi as receitas, os segredos do barro. Talvez por isso adore a outra culinária.

Escultura de Dario Boaventura

Chuva e trovoadas

Nem de Inverno, nem de Verão: Maio adoptou-as. O desabrochar das flores, o cheirinho a Primavera, a alegria dos passarinhos: já deu o que tinha a dar. Agora, há que ser diferente.

PROXIMIDADE

O que significa a proximidade das mãos se os corações se distanciam?

O que nos liga

O que nos liga são papas, passos, palavras. O que nos liga são fraldas, febres, fracassos. São dentes, disparates, desejos. São risos, raspanetes, receios. São sonos, soluços, sucessos.

O que nos liga, fio invisível que ninguém entende, é uma vida, que de vez em quando regressa ao ventre.

CIRCUNSTÂNCIAS

Tal como o excipiente é importante no medicamento, o mesmo acontece com as circunstâncias na vida de uma pessoa. Mas, por norma, consideramos apenas o princípio activo.

LÁGRIMAS - V

Em cada lágrima reunia todas as mágoas. Não queria voltar ao sítio de onde nunca tinha saído.

DESPEDIDA - IX

Devíamos dizer até mais ver, até nos revermos (o frequente “au revoir” dos franceses), em vez do frio adeus. Para não nos abandonarmos à melancolia de cada despedida; haverá sempre um reencontro.

DÚVIDA

Não gostamos de dúvidas. Mas na dúvida há esperança: não sabemos para qual dos lados a balança vai pender. 

INSPIRAÇÃO

Usamos a mesma palavra para o ar que entra e para as ideias que nos assaltam. A mesma premência e a mesma paz, se o ritmo se faz certo.

PESSOAS

Como as ondas, as pessoas vêm e vão. Como as ondas, algumas desfazem-se na areia, ficando apenas a espuma dos dias. Poucas permanecem, revolvendo-se na rebentação, fugindo ao abandono da praia.