Eólicas

No início da manhã as eólicas saúdam o sol. Quais extraterrestres num lento bailado agradecem o dourado dos campos.

MOMENTO - IV

Estou bem assim. Não preciso de mais nada. Num abraço adormecido cadenciado na tua respiração.

MAR - VIII

Admiro a tua revolta, a tua força implacável, que tão bem transformas em suave carícia. 

Regresso a casa

O cheirinho da minha cidade

No meu rio devolvido

Entranha-se-me a humidade

Como se não tivesse partido.

CHUVA - V

Sacia a sede

desta terra queimada.

Devolve-nos o odor

da terra molhada.

Numa ilusão de paz

porque a história se repete.

Mesmo se a dor

outra coisa promete.

O meu país

O meu país ardido, confundido, neste Outubro, chamas ao rubro, consumido pela ganância, dá-me uma ânsia, de nada fazer, e só ver perecer.

VENEZA

Seria a água, os reflexos, as estreitas ruas coloridas, a explosão de flores nas janelas? Ou a brutalidade de desaguar nesse líquido espelho logo à saída do comboio? Nos meandros memória procuro o teu encanto.

ÁRVORES – XII

Na delicadeza dos braços, abandonados de folhas, onde uma dança se imagina no repouso dos ramos.

OUTONO - X

Só as folhas te traem, Outono. Esqueceste-te de arrefecer os dias, de apaziguar incêndios, da sede das flores. E nesta luz sem retorno, concedes-nos o privilégio de tardios banhos de mar.

OUTONO - IX

No encurtar dos dias, estampam-se nas árvores todas as cores do entardecer. A hegemonia do verde, traída pelo abandono da clorofila, dilui-se na luz dourada que o envolve. 

Trás-os-Montes

Sou de ti cativa: da ondulação do feno, dos amarelos e vermelhos com que pintaste as folhas, dos castanhos que anunciam o desnudar das árvores.