SERENIDADE - V

Não te agarres à palavras, mas também não as temas. Deixa-as construir pensamentos, que deixarás fluir, deles te distanciando.

É isso a serenidade.

Nome de rio

Se tem o nome de um rio, como não se mover?

Atravessarás todos os meandros até abraçares o mar para o adoçares com a tua energia.

ESCULTURA - III

Afago estes corpos de barro. Deslizam as mãos na memória das tuas que os criaram. Neste silêncio triunfa a emoção do gesto, já que as palavras, agora como então, são desnecessárias.

Escultura de Dario Boaventura (1923-2013)

ARCO-ÍRIS

Redimam-se as lágrimas. Até o céu chora. E é assim que nos oferece o arco-íris.

PERSPECTIVA - III

Tudo é relativo: súmula de infinitas possibilidades. A natureza ensina-nos isso. As mesmas cores servem para atrair as fêmeas, para avisar do perigo, para enganar incautos. Ou até mesmo para a despedida fulgurante, antes do desnudar das árvores.

OUTONO - XII

Há tanta cor no Outono, a resplandecer nos fugazes momentos de sol, que logo esquecemos o encurtar dos dias e as bátegas de chuva. Como a paz que nos envolve nos pequenos intervalos em que silenciamos a mente.

OUTONO-XI

Antes de se despir, nada melhor do que colorir o traje.

MEDITAÇÃO – IX

Respira. Concentra-te na respiração. Foi a primeira coisa que fizeste. Será a última que farás.

ALHAMBRA

Domina a cidade nos seus desenhos árabes, num rendilhado de alba pedra entremeado de madeira. Nas sebes e quedas de água as princesas amenizavam o calor.

 

 

GRANADA

Ruas estreitas num sobe e desce, as sombras estudadas, o calor que se afoga nas canhas, as cores, as tradições nas vestes aos folhos e nas rosas, e de todos os lados ora vela o Alhambra ora a Serra Nevada. E tudo se pode fazer no correr dos passos, calcorreando esquinas e escadas, ignorando as ruas que apertam autocarros. Granada, onde quero voltar.

TRISTEZA - II

Para afogar a tristeza começou a descascar cebolas. E assim a entregava à conveniente incontinência que lhe queimava os olhos.

MILAGRES

- Acreditas em milagres? – Perguntou ele.

- Sim. – Disse ela. E mostrou-lhe o bosque, a cantata dos pássaros, as flores nos jardins.

AUTONOMIA

- Tens de ser autónoma. – Disseram-lhe.

Mas entre a autonomia e o abandono navega a ténue linha da indiferença.