terça-feira, 31 de julho de 2012

VENTO


Um vento fresquinho que entra pela janela e agita os meus pensamentos. Um arrepio na pele que mais parece um agitar da lama, onde as emoções se enredam e confundem.
Sentir-me parte da natureza que me envolve. O vento refresca-me e diz-me que me deixe ir.


domingo, 29 de julho de 2012

Pôr do Sol


Fotografia de Mário Gomes


Lentamente o dia apaga-se numa exuberância de fogo. O sol é agora uma bola laranja que se derrete no mar.

A luz intensa deu lugar a esta energia suave, onde já podemos descansar o olhar. O momento é mágico. Amanhã haverá um novo fulgor.

E assim aprendemos a viver um dia de cada vez.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Tábuas de salvação


Agarramo-nos a qualquer coisa. A objectos. Se calhar mais do que as pessoas, são agora os objectos que garantem a nossa sobrevivência.

Com o passar dos dias indiferentes, são a nossa ténue ligação ao mundo. Tábuas de salvação num naufrágio, de onde sabemos que não seremos resgatados.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Há dias assim...

Há dias assim, em que nos levantamos da cama e só nos apetece abraçar toda a gente. Especialmente os desconhecidos, na tentativa de mostrar a empatia que sentimos em sermos todos humanos. São dias em que acreditamos no futuro, que o sol vai descobrir, a comida do almoço (ainda que requentada do dia anterior) está uma maravilha.

Não aconteceu nada de especial, pelo menos que saibamos explicar, a não ser que acordámos assim.

Outros dias há em que acontece o contrário, e apenas conseguimos ver o lado negro de tudo. Mas desses, não falaremos agora.

terça-feira, 17 de julho de 2012

O cuco


A fêmea do cuco coloca os seus ovos nos ninhos de outras aves. Como tal não tem as preocupações comezinhas de construir um ninho, incubar os ovos, alimentar as crias.



Durante vários dias observa outras aves, as suas potenciais vítimas. Na primeira oportunidade deposita um dos seus ovos no ninho dessas aves, dele retirando um dos ovos originais, para que a dona do ninho não detecte o logro. E, como um serial killer, repete várias vezes esta operação.

O seu ovo geralmente eclode mais cedo, e o recém-nascido, numa atitude de grande eficácia, elimina os outros ovos, ou eventuais crias já nascidas.

Praticamente a custo zero, o cuco  consegue os seus objectivos:  reproduzir-se, passar os seus genes. Impõe a sua presença às outras aves, que funcionam como “pais adoptivos”, criando os seus filhos. Explora-as numa atitude descarada, de quem sabe que levou a melhor na luta pela sobrevivência.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Fora de serviço

Devíamos poder pôr, de vez em quando, um letreiro na testa a dizer “Fora de serviço”. Como um qualquer equipamento que deixou de funcionar.


Em vez de disparatarmos, de nos pormos a chorar, de deixarmos sair a nossa agressividade em ondas sem retorno. Como a máquina que fornece um café azedo quando se lhe pediu um bem doce.
Fora de serviço. A reparação será efectuada logo que possível. Que é como quem diz, quando o indivíduo em causa tiver de novo conquistado a sua paz de espírito.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

O luto

Toda vestida de preto, em sinal de respeito por quem se foi, mostrando aos outros a sua perda.
É uma tradição. Muitas vezes só se usa o luto por isso mesmo, por tradição, porque não o fazer parece mal.
Talvez por isso, nunca gostei do luto, nem de ver alguém vestido de preto dos pés à cabeça. Faz-me confusão. Oprime-me.
A dor não transparece na cor da roupa.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Terapia de choque


Ouvi há dias a notícia de que há indivíduos condenados no caso BPN que estão a gerir fundos ao serviço do Estado.

É uma ideia engraçada, ainda que não inovadora, já que no filme “Agarra-me se puderes”, com o famoso Di Caprio, o herói, exímio vigarista e falsificador, acaba precisamente na unidade de crimes financeiros do FBI, a detectar cheques falsos.

Penso que neste caso do BPN a ideia deve ser a mesma. Colocar especialistas em desvio de fundos a gerir de forma mais segura outros fundos.

Trata-se de uma terapia de choque, que certamente levará à cura efectiva destes indivíduos. Ou seja aproveita-se o que eles têm de melhor, os seus dotes de especialistas, acrescido do benefício social da sua recuperação plena.

O mesmo que colocar antigos alcoólicos na função de provadores de vinhos.

domingo, 1 de julho de 2012

Notonecta


O insecto Notonecta fica suspenso, virado ao contrário, mesmo por baixo da superfície de um lago, aguardando pequenos distúrbios da água que lhe indicam a presença de uma presa. Quando alguém toca a água com um alfinete perto de um destes animais, ele volta-se na direcção da agitação da água, mas depois de muitos destes toques deixa de responder e leva muito tempo a recuperar.



Poderíamos pensar que se trata de fadiga muscular, mas este insecto volta a responder ao estímulo se este agora ocorrer no lado oposto. Isto quer dizer que apenas deixou de responder devido à habituação, uma das caraterísticas do comportamento.

Há dias pensei como os filhos são um pouco como o Notonecta, deixando de ouvir os pais devido à habituação. Na verdade, tomei consciência de como digo a mesma coisa inúmeras vezes, sempre da mesma maneira, quem sabe, até com o mesmo tom de voz.

Se um simples insecto deixa de responder a um estímulo repetitivo, poderia eu esperar outra coisa dos seres humanos? O melhor será, como para o Notonecta, passar a tocar na água do outro lado.