domingo, 25 de novembro de 2012

O guarda-chuva


Acabei de adquirir um guarda-chuva. Escolhi o azul.

O homem disse: “Este é mais caro, as varas são de fibra, não quebram quando se vira.”

Também eu queria essa fibra, que me impedisse de quebrar com a primeira rabanada de vento.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Os abutres

Os abutres são assim. Ainda o animal está moribundo, ainda o sangue timidamente lhe estremece as veias, e já o esperam.

A sua presença não deixa dúvidas, sobretudo ao animal moribundo. Talvez por isso já se apresentem de luto, mostrando-lhe a inexorabilidade da morte que se avizinha.
Lembram-me alguns funerais. Ainda decorre o velório e já se discute a herança.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

As ervas daninhas

As ervas daninhas são danadas.

Fotografia de Mário Gomes

Aproveitam qualquer bocadinho de terra, de água, para crescerem vigorosamente em todo o lado. Sem pejo, roubam a luz e os nutrientes às frágeis hortícolas, que delicadamente mantêm o seu ritmo na tentativa de nos oferecerem o seu melhor.
As daninhas não nos dão nada, mas se não tivermos cuidado, rapidamente se tornam as rainhas da horta. Por isso as arrancamos, tarefa monótona, que se quer repetida, para não lhes darmos tréguas. Para o bem da horta.
Estranhamente, não adoptamos a mesma filosofia na nossa sociedade.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Nas palavras

Nas palavras, como na música, busco o ritmo, a cadência.
Por isso são escritas e reescritas até que, mais do que revelarem um pensamento, traduzam a melodia.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Poemas com rima - Este Inverno dentro de mim


Este Inverno dentro de mim
Longas horas de chuva
Este penar sem fim
Que desde sempre me perturba.

Serei eu
Ou o meu fado?
Mas cada vez que me ergo
Olham-me com desagrado.

E oiço uma voz que me diz
Não desistas, faz um esforço.
Mas sinto que é por um triz
Que não me afundo num poço.

domingo, 11 de novembro de 2012

CHORAR


Queria chorar tudo agora. 
Em jeito de catarse, libertar-me da mágoa, dos medos, da dor do mundo. Para que as palavras não sejam ameaças, as pessoas obstáculos. 
Para poder acreditar de novo.

sábado, 10 de novembro de 2012

Em jeito de rap...


Sou lixado
Formatado
Jogado para o lado.

Não encaixo
Cabisbaixo
O que faço não despacho.

Sou diferente
Contundente
Ameaça a muita gente?

Deprimido
Sem sentido
Pareço um animal ferido.

E por isso
Qual sufixo
Pregaram-me num crucifixo.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

O artista

O artista
Vejo-te nos teus desenhos. A morder a língua na tua concentração. Feliz. Mais tarde a esfregar a cabeça como que libertando ideias aprisionadas. Vejo-te novamente criança, tímido, a dizer com tristeza que pensavas coisas que os teus colegas nunca pensavam.
Vejo-te crescer numa solidão que te foi dura, colmatada apenas pelo mundo imaginário que construías. E que moldavas. Mais tarde reescrevias.
Vejo como desabrochaste. Como ferido por demasiada sensibilidade, sobreviveste e te tornaste um artista. Como transformaste ideias, lampejos do teu imaginário, em imagens de profundidade e beleza que todos apreciam.
Vejo como os teus 25 anos jovens, mas maduros, abarcam uma cultura que a alguns assusta porque, anquilosados nos seus anos mal vividos, não aceitam que os ultrapasses. E nada é mais fácil do que apelidar-te de imaturo, ignorar a tua obra, e abusar da tua complacência, que te leva a partir do princípio que somos todos boas pessoas.
Vi-te ontem feliz, sensato, a usar a palavra oral como tua aliada, o tímido que enfrentou o público do seu primeiro filme com o orgulho da missão bem cumprida.
Uma vitória amarga, eu sei, um parto doloroso, mas a “criança”, a obra, está viva e recomenda-se. E realizaste o teu sonho. O resto são pormenores…
Como tu disseste ao teu público, “abracem um projecto, acreditem nele, e levem-no até ao fim”. E todos acreditámos e, depois do que vimos, soubemos que temos razões para acreditar.

sábado, 3 de novembro de 2012

O arco-íris


Tecnicamente o arco-íris resulta da decomposição da luz nos diversos comprimentos de onda que a compõem, quando atravessa as gotas de água. Por isso aparece quando, nos dias chuvosos, surgem alguns raios de sol. Esta contradição entre o sol e a chuva está bem patente na sabedoria popular, quando se diz: “Sol e chuva, casamento da viúva”.



Assim o arco-íris, simples fenómeno físico, é a pintura colorida, num cinzento dia de chuva. E bem bonito!

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Poemas - Música



Preciso de música

De me perder nos acordes

Para que a tristeza se escoe

E na serenidade que me envolve

Encontrar o meu refúgio.