domingo, 31 de julho de 2016

FELICIDADE - IV

Só queriam a sua felicidade. Aquilo que entendiam como felicidade. E que nada tinha a ver com pés descalços, odor da terra, quimeras duvidosas. Ela: só queria ser feliz.

quarta-feira, 27 de julho de 2016

COMUNICAÇÃO – VII

Exprimia-se com meias palavras que convinha ler nas entrelinhas. Eram os silêncios, as palavras que não se atreviam a ser pronunciadas, que mais o denunciavam.


domingo, 24 de julho de 2016

DECORO

Era uma operação. Cirúrgica? Talvez não. Fiscalização de trânsito. De veículos, apenas. Pena não ser possível parar a transeunte, nos limites do decoro, onde o olhar dos polícias se perdeu. 


sábado, 23 de julho de 2016

EQUILÍBRIO

Roeu-lhe a corda: frágil, a única que a segurava à vida. Livre da ilusão, deixou-se cair na realidade.




quarta-feira, 20 de julho de 2016

TEMPO - V

- Dá-me quinze minutos! – Disse-lhe ela e desligou-lhe o telefone.
Bem que ele gostaria de lhe dar todos os quinze minutos que ela quisesse. Mas não era dono do tempo.




terça-feira, 19 de julho de 2016

O português

O português nunca está bem. O português vai sempre andando. Mesmo que nada o aflija, acha que não é bom afirmar que está bem, não vá o diabo tecê-las.
Quem nos ouvir, achará que somos um povo de eternos caminhantes. 


segunda-feira, 18 de julho de 2016

Exames médicos

É incrível a panóplia de artefactos para esconder a nudez, numa ridícula ilusão de privacidade. Poderia ser até o último grito da moda, mas a mim faz-me sentir um palhaço. De boa vontade entraria seminua, e pouparia o ambiente da inutilidade destes artifícios descartáveis. 

domingo, 17 de julho de 2016

Floresta do Turio

Exército despido, imponente na contraluz. Noutras árvores, a quem as folhas não abandonaram, a luz coada desvenda tonalidades. Entrega-se às cascatas, à música de um outro verde. Faz-se plena na calma do rio, convidando-nos a um mergulho.
















quinta-feira, 14 de julho de 2016

SAUDADE - VIII

Ainda sou do tempo em que a saudade tardava em letras manuscritas. Onde eram mais longas as horas sem rostos, apartadas dos gestos, a voz impedida nas tarifas incomportáveis. Hoje, as novas tecnologias, mitigam a saudade.


terça-feira, 12 de julho de 2016

Pendentes

Pendentes: só os que dependurava na janela. Os da vida, mensageiros da ansiedade, só queria que se fossem. E, nessa altura, respirava a liberdade.


segunda-feira, 11 de julho de 2016

O tempo - IV

O tempo, esse tormento, mais rápido do que o vento, nos segundos que nos escapam, quase que era o momento, e tudo se foi num lamento. O tempo, esse tormento, às vezes muito lento, arrastando horas e dias, empatando o sofrimento.


domingo, 10 de julho de 2016

Para sempre

Para sempre é muito tempo: não há enredo que aguente. Só no encantamento da infância, nas histórias que agora desencantam a nossa vida.


sábado, 9 de julho de 2016

Pôr-do-Sol - III

Entregue ao crepúsculo, o sol despede-se na água.  Mil reflexos que as gaivotas agitam.



 



sexta-feira, 8 de julho de 2016

GAIVOTAS - III

Observam-nos: são calmas na distância que respeitamos. Brincam no reflexo prateado, no vaivém das ondas, voam no crepúsculo. Em bando, se nos fazemos próximos.















quinta-feira, 7 de julho de 2016

Conversa de flores

- É tão bonito o teu azul! – Diz o malmequer ao miosótis.
- Pois eu, encanto-me com o amarelo. - Responde o miosótis. - Sobressai tanto, no verde dos prados.
- Não há nada como o branco. – Contrapõe a esteva, exibindo a alvura das suas pétalas. – É simples. Nada espampanante. Símbolo do que é puro. Há aí muitas que bem precisavam de sobriedade. – Remata, olhando de soslaio a papoila.
- Todas são bonitas.  - Sussurra a papoila, olhando o seu traje enxovalhado. 





quarta-feira, 6 de julho de 2016

A teia - III

A aranha, diligente, tece a teia, como gente. Mas a dela é evidente, mesmo parecendo transparente, e nela apanha o imprevidente. A humana, é iludente, disfarçada de eloquente, bem urdida e impudente, nela enreda muita gente, mantendo um ar inocente.