domingo, 30 de junho de 2013

Sentir-se em casa – II

Citadino por nascimento, é no campo que se sente em casa. No rebanho que passa. No verde da vinha. Nas aldeias.

E são já várias as que lhe desvendaram os seus mistérios, registados em breves instantâneos.

Mas não vai de passagem. Demora-se na contemplação. Conhece gentes, recantos, embala-se nos sons.

É como se sempre ali tivesse estado. Por isso é bem vindo.


















sábado, 29 de junho de 2013

Somos efémeros

Somos efémeros. Não tanto como alguns insectos, que têm apenas vinte e quatro horas para cumprirem o seu destino. Mas ainda assim efémeros.

No entanto, tendemos a considerar a nossa vida como permanente, imutável. E por isso nos espantamos quando uma relação termina, quando alguém morre de forma súbita. E por momentos, tomamos consciência da nossa efemeridade. 

quinta-feira, 27 de junho de 2013

S. JOÃO

Ó meu rico S.João
Nosso santo aqui do Norte
Olha a nossa situação
Vê se trazes melhor sorte.

Eram tantos os balões
Com uma lua tão perfeita
Outros tantos os refrões
De uma esperança refeita.

Ao menos por uma noite
Saia a crise, entre a folia
Algo que nos afoite
A dançar até ser dia.





sábado, 22 de junho de 2013

Hoje é um dia com palavras

Hoje é um dia com palavras. Apoderaram-se de mim logo de manhã. Esperam pacientemente os escassos momentos de pausa para me obrigarem à escrita.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Corredor de hospital

Filas de macas. Cruzam-se histórias e lamentos. Passos rápidos procuram diagnósticos para tantos corpos resignados ao sofrimento.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

COMUNICAÇÃO

No silêncio não escolhido mãe e filha comunicam por gestos. O bailado das mãos discute o texto de uma carta.

Olho sorrateira. Intrusa de um mundo que não posso entender. Mas deslumbrada com o poder da comunicação.

Falam. Como qualquer mãe e filha.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Já era tempo...

Já era tempo de o tempo
Abandonar o contratempo
Acabar com o lamento
E dar-nos sol a contento.
 

domingo, 16 de junho de 2013

Sentir-se em casa

Não é o lugar onde nascemos.

O que nos faz ser o que somos é o que construímos. Onde lançamos raízes. Como as árvores.

Brotam de sementes que às vezes viajaram de muito longe. Ali ficam, crescem, frutificam.

Acolhem a vizinhança, os visitantes, fazem amigos.

Sentem-se em casa.









quinta-feira, 13 de junho de 2013

As mãos

Fotografia de Mário Gomes

Deslizam sobre o piano. Afagam o barro. São os olhos do cego, a delicadeza da bailarina, a perícia do bisturi, o embalo do recém-nascido. Amam a terra, estremecem no desejo, adormecem.


Primem o gatilho. Sentenciam a morte. Das palavras duras tornam-se aliadas. Aplaudem a hipocrisia.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Paisagem no Douro

Verde geometria do vinho. Encostas onde os socalcos se intersectam. Quase grafismos de textos sem escrita. Ciprestes solitários almejam o céu.

E o ocre da terra desliza no embalar do rio.











terça-feira, 11 de junho de 2013

Foz Côa

Vinte mil anos depois, gravadas na pedra, testemunhos da pré-história. Auroques, cavalos, cabras, mistura de linhas, geram perguntas sem resposta.



Tímidos raios de sol atravessam as nuvens e espelham o rio.





E uma multiplicidade de flores silvestres encanta a minha objectiva.













sexta-feira, 7 de junho de 2013

ARRUMAÇÕES

Uma pasta cheia de cartas.
Pessoais, oficiais, uma amálgama de textos, num critério pouco compreensível. Palavras de tantos que já partiram, tão prementes como quando foram escritas, misturadas com histórias de alguns que não conhecemos. Frases engraçadas, outras intemporais. Pedaços das nossas vidas, para sempre gravados em folhas amarelecidas.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

A austeridade do tempo ou o tempo da austeridade

Um calor de parcos recursos, tímido. Um sol que aparece entre dias cinzentos, mas que mesmo assim se acompanha de vento.
Aproxima-se um Verão austero, assim o anunciam. A juntar à austeridade com que nos vêm atormentando há meses sem fio. Ao país que se degrada, à gente que emigra, à ciência que se faz mais pobre em cada dia que passa.
Na volta, isto é apenas uma questão de estratégia. Se não há dinheiro para férias, para que precisamos de bom tempo?
Vou manter no armário as botas casadas com as sandálias.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

A gata que gosta de polvo

Como distinto membro da família dos gatos, a Mia é um animal estranho.
Arrulha, não ronrona. Não sai de casa mas colecciona pulgas. (Não as vemos mas faz uma exuberante alergia). Não liga ao peixe, muito menos a sobras de comida, mas rende-se ao polvo.
Experimentei uma vez. Dei-lhe as cabeças de polvo, que ninguém come. Como faço com outras coisas, quando ela se estica toda pelos armários da cozinha acima.
E não é que gostou? Tanto, que agora basta sentir o cheiro da cozedura para não arredar pé da cozinha, qual soldado de sentinela, até ter o seu quinhão no prato.
Uma gata que gosta de polvo?