terça-feira, 27 de agosto de 2013

RUMO

Ténue é a linha que nos prende à vida. Ao rumo.

Na ponte há dois sentidos e nunca conheceremos a alternativa à nossa escolha.


Quando fazemos o melhor, e subitamente o tapete nos é puxado, temos mais é que nos agarrar. A quem permanece ao nosso lado. A quem surgiu de novo para nos dar a mão. 

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Brincando com as sombras

Na luz do fim de tarde, onde o verde lentamente se veste de fogo, as nossas sombras ganham vida.

Alongados seres, misturam-se, brincam, desinteressados do magnífico pôr-do-sol. 









terça-feira, 20 de agosto de 2013

MOSCAS

Em casa, a Mia não deixa escapar uma mosca que lhe fique no encalço.

Aqui no Gerês, fruto do excesso de presas, ou do torpor a que este calor obriga, não se mexe.


E assim a casa enche-se de moscas, indiferentes à preguiça de um felino adormecido.




domingo, 18 de agosto de 2013

Pessoas e gatos

Sentada na cadeira do dentista pareço a Mia à porta da casa do Gerês.

A Mia avança lentamente, estica as orelhas, suspende a pata. Ao mínimo ruído encolhe-se e foge.









Eu, estou tensa, atenta, pronta a gemer à mínima dor no meu dente “morto-vivo”.

O mesmo medo do desconhecido.

sábado, 17 de agosto de 2013

ENGENHEIRO

Monta e desmonta circuitos. Com a concentração e a perícia do cirurgião, esventra os transformadores, retira peças, faz ligações. Em tudo, o procedimento se assemelha a uma cirurgia. Só não necessita de condições assépticas. 




terça-feira, 13 de agosto de 2013

A Mia à janela - II

A Mia está à janela
A ver o gato passar
Uma gatinha tão bela
O que estará a imaginar.

Uma mosca varejeira
Veio a paz perturbar
Mas a Mia Sobranceira
Não se deixa incomodar.

Não tira os olhos do gato
E está toda eriçada
Nós não sabemos, de facto
Porque ficou tão irritada.




sexta-feira, 9 de agosto de 2013

MEMÓRIAS - II

Entre a sangria, a cerveja e o vinho, soltam-se memórias de outros tempos. De mundos que sendo nossos, já não nos pertencem, porque outros éramos. Adoçadas pela distância, são ficções de uma realidade perdida.

Às vezes anacrónicas, como o estribilho que acabo de ouvir: “Olha a batatinha!”



quinta-feira, 8 de agosto de 2013

As folhas do caderno

Fisicamente unidas por uma espiral de arame, as folhas do caderno são páginas avulsas.

Misturam ideias, esboços de projectos, números, palavras sentidas, numa benéfica confusão.


sábado, 3 de agosto de 2013

Festas de anos

Não gostava de festas de anos. Por isso marcou para esse dia actividades de dias normais, até menos próprias de um dia de férias.

Curiosamente, tinha aceitado ir jantar fora com os colegas, a uma outra festa de anos. Esquecera-se do seu próprio aniversário.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

NARIZES

A propósito de um tratamento que fiz de desobstrução do nariz, disse-me o médico que os narizes são todos diferentes. Uns ficam a deixar passar plenamente o ar, outros são mais renitentes.

Fiquei a pensar onde se enquadram aqueles que se metem onde não são chamados.