terça-feira, 30 de julho de 2013

CONFIANÇA - II

Era de poucas palavras. Macambúzio, diziam. Mas vendo um outro mais frágil que ele, entabulou conversa, abriu-lhe o seu coração. Um misto de solidariedade e solidão.

Dias mais tarde adivinhou-lhe no olhar que o atraiçoara. Inconsolável, oscilava entre a incredulidade e o autodesprezo pelo seu descuido em confiar.

Passou a mão no peito. Era quase possível sentir uma profunda cicatriz.

sábado, 27 de julho de 2013

FUNERAL - II

Acordara já vestida de negro. Como se adivinhasse. Como se, de certa forma, lhe tivesse dito que partia.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

MUDAR

Há tempos ouvi, na rua, alguém dizer: “Pode-se mudar de tudo, de país, de mulher, até de sexo, mas não se pode mudar de clube de futebol”.
Para mim, que não sou adepta de futebol, e com a experiência que tenho na área da saúde, digo que não se pode mudar é de centro de saúde. Sinto-me grata por pertencer a um que prima por excelente funcionamento.

terça-feira, 23 de julho de 2013

FELICIDADE

É muito bom ser-me possível ver como fui importante na vida dos outros. Como a minha presença, às vezes transitória, permitiu a outro crescer como ser humano. E assim sentir a felicidade das coisas simples.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

PARTILHA

Numa mesa cheia de comida, reúne os amigos.

Que melhor forma de mostrar a amizade, que neste conjunto de iguarias, tão amorosamente confeccionadas, com que nos presenteia.

É um regalo de sabores, cores, odores, que nos faz sentir honrados por sermos convidados desta ceia.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

POBREZINHO - III

Dados os seus rendimentos e a antevisão de a reforma não chegar para as despesas, decidiu investir numa profissão de futuro. Desta feita, foi aprender a anilhar cagarras.
Disseram-lhe que era a primeira vez que alguém, na sua posição, se dedicava a tal tarefa.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

OBSTÁCULOS

Em todos os caminhos há percalços. Obstáculos que não entendemos.

Avançar torna-se uma luta. Caímos, erguemo-nos, aprendemos forças que não conhecíamos.

Só mais tarde, às vezes, e em fugazes momentos, nos é mostrado o que ganhámos. E aí percebemos, com um sobranceiro sorriso interior, como as difíceis metamorfoses nos transformam em tranquilas borboletas.


segunda-feira, 15 de julho de 2013

A casinha

Sentavas-te na areia, os braços cruzados, pousados nos joelhos. E eu ocupava esse espaço. Era a minha casinha. Levantava-te um braço, como uma cancela, e era a porta da casinha. E eu saía, e entrava, e sentia-me segura nesse espaço construído pelo teu corpo.

Sem pedir licença o meu corpo cresceu. O teu ficou mais pequeno, mais débil. A casinha, resgato-a da memória quando agora te amparo.

domingo, 14 de julho de 2013

Fragas da Pena Má

Nas sombras e no verde, nos musgos e na água cristalina, faz-se um caminho.

Entre silvas e pedras não se sabe onde vai dar.

E, subitamente, as fragas. Entre a verticalidade das rochas a água faz-se imponente. 








sábado, 13 de julho de 2013

CHÁ



Infusão de frutos, flores, folhas, raízes (ou seja, quase tudo na planta serve para fazer chá). Mistura de aromas, cores, texturas, origina uma bebida reconfortante. Não há nada que um bom chá não ajude a aliviar.


sexta-feira, 12 de julho de 2013

TRISTEZA

O lábio trémulo. Por trás dos óculos escuros uma qualquer memória despertou as lágrimas. E o rosto trai um sofrimento que aflora.

Apetecia-me dar-te a mão. Mas as normas sociais impõem fronteiras entre desconhecidos.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

A carteira das senhoras

Uma amálgama de objectos num caos tranquilo. Pequenos tesouros convivem com objectos inúteis, que apenas aguardam serem descartados.





Mas se de repente é preciso alguma coisa, um comprimido, um alfinete, ou algo ainda mais improvável, é neste receptáculo que a busca começa.

domingo, 7 de julho de 2013

As birras

Fui devidamente ensinada que as birras não davam resultado. Por isso, quando fazia uma qualquer perrice, mandavam-me ir chorar para o meu quarto até que passasse.


No governo de Portugal é diferente, as birras funcionam. O ministro bate o pé, amua e diz que se vai embora. E logo, logo, lhe fazem as vontades e lhe dão o rebuçado que pretendia. Ninguém o manda chorar para o quarto, com medo de um qualquer desgoverno.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Acordou muito cansado

Acordou muito cansado. Já só sabia subtrair. As outras operações não lhe diziam nada. Nos momentos de insónia era assombrado por ficheiros de excell, com colunas gigantescas, onde os números o bombardeavam de forma violenta.
Ainda havia uma coisa a fazer. Com um profundo suspiro, arrancou-se à dormência que o envolvia e escreveu a carta de demissão. Teriam de compreender, ele não aguentava mais. Não tinha culpa se as contas teimavam em desacreditá-lo.
No dia seguinte, outro seguiu o seu exemplo. Seria um vírus? E deu por si a pensar quem seria o próximo.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

ALMOTOLIA

Almotolia. Palavra difícil de decorar. Rima com melancolia, e bem. Dentro coloquei um azeite que resgata sabores que já não conhecia.


terça-feira, 2 de julho de 2013

S.Pedro

Mais uma vez, no nono andar da Pasteleira, a Afurada oferece o seu bonito espectáculo. Iluminação, música e, por fim, o bailado dos foguetes.










segunda-feira, 1 de julho de 2013

Mesa de cabeceira

Há quem durma com um copo de água na mesa de cabeceira. No meu caso, é com um papel e um lápis. Posso ter sede de palavras.