Se
há coisas que recordamos com saudade, outras há que gostaríamos de não voltar a
sentir. Outras em que não precisávamos que o cérebro, numa terna vozinha
cínica, nos viesse sussurrar que já aqui estivemos. E se já nos sentimos mal
pelo que agora de novo vivemos, ficamos pior porque percebemos que talvez não tenhamos
aprendido nada. E é aí que o desespero ganha terreno.
segunda-feira, 28 de dezembro de 2015
domingo, 27 de dezembro de 2015
O silêncio do corpo
Roubei esta frase ao meu pai. Provavelmente ele também a roubou a alguém, o que, segundo o velho adágio, me concede o total perdão por este abuso.
Quando tudo no corpo funciona, vivemos na harmonia fisiológica. Os órgãos entendem-se, cumprem as suas tarefas, e não nos aborrecem com as suas eventuais quezílias. O corpo é, por isso, silencioso.
Com o passar dos anos, começamos a ouvir sinais de alarme. Passamos a ter conhecimento desses órgãos que viviam calados. E aí temos fígado, estômago, um braço que não respeita a hora do sono, um coração que adquire música própria, e ganhamos toda uma orquestra que agora toca sob os augúrios de um maestro duro de ouvido.
Roubei esta frase ao meu pai. Provavelmente ele também a roubou a alguém, o que, segundo o velho adágio, me concede o total perdão por este abuso.
Quando tudo no corpo funciona, vivemos na harmonia fisiológica. Os órgãos entendem-se, cumprem as suas tarefas, e não nos aborrecem com as suas eventuais quezílias. O corpo é, por isso, silencioso.
Com o passar dos anos, começamos a ouvir sinais de alarme. Passamos a ter conhecimento desses órgãos que viviam calados. E aí temos fígado, estômago, um braço que não respeita a hora do sono, um coração que adquire música própria, e ganhamos toda uma orquestra que agora toca sob os augúrios de um maestro duro de ouvido.
sábado, 26 de dezembro de 2015
Inverno no Douro
Perdeu
a vinha o fulgor no adormecimento do Inverno. Mas, na nudez das vides, a vida
redescobre-se nas ervas daninhas. E este verde entremeado dá à paisagem um novo
esplendor.
domingo, 20 de dezembro de 2015
Nem parece Dezembro
Nem
parece Dezembro
de
tal forma o tempo se faz ameno.
Rejubila
o mar
na
espuma do momento
e
ave se entrega a um novo alento.segunda-feira, 14 de dezembro de 2015
Linguagem gestual
“Dói-me
as mãos de tanto falar”: diria ela. Até porque a língua é um músculo muito resiliente.
A outra, a que fala, responderia: “A mim também me doem as mãos”. E pensaria no
seu dia de trabalho, onde trocava as palavras pela dança dos dedos. Sim: as
suas mãos também falavam.
sábado, 12 de dezembro de 2015
VELHINHOS
Serão
iguais todos os velhinhos? Os mesmo muito velhinhos? Os mesmos olhos pequeninos
onde se esconde a grandeza do mundo. A mesma face encovada, onde a despedida do
corpo vai realçando a magreza. As mesmas orelhas grandes, como se quisessem
abraçar os sons que são cada vez mais silêncio.
Porque
olho-os e é sempre o teu rosto que eu vejo.Escultura de Dario Boaventura |
sexta-feira, 11 de dezembro de 2015
quinta-feira, 10 de dezembro de 2015
terça-feira, 8 de dezembro de 2015
sábado, 5 de dezembro de 2015
NATUREZA
A
Natureza tem destas coisas: repete o modelo na multitude dos seres. E na tangerina vemos uma árvore, um coral, ou a ramificação dos vasos sanguíneos.
terça-feira, 1 de dezembro de 2015
CORPO
“Vocês
conhecem o vosso corpo”: diz a professora. Ora aí está, é que eu já não
conheço. Depois de tantos anos de convivência já não devia haver truque que me
escapasse, manha que não conhecesse. Mas não. São dores que não se explicam,
inconstâncias térmicas, pruridos inconsequentes: dissonante ruído de fundo, uma
latente inquietação. Não posso desculpá-lo por esta revolta surda, esta birra
infantil: uma chamada de atenção. Ao longo destes anos ele sabe como tem sido
bem tratado.
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