segunda-feira, 28 de março de 2016

MARIOLA

Pedra sobre pedra: pequena escultura que indica o caminho. Nos tropeções da vida também eu procuro uma mariola.


domingo, 27 de março de 2016

Resposta adaptativa

Não fazemos mais do que adaptarmo-nos: desde a primeira lufada de ar, tendo abandonado a tepidez do aquário que nos fez gente. É um fenómeno constante que se traduz em febre perante os invasores, suor quando o tempo aquece, dor quando exageramos barreiras.

De tal forma é importante que extravasou na linguagem; quando a adaptação é violenta até dizemos: o que não nos mata faz-nos mais fortes.

E é nas árvores, ao longo das estações do ano, que me encanto com a elegância da resposta adaptativa.







sexta-feira, 25 de março de 2016

EXPECTATIVAS

“Difícil é esperar quando sabemos nada haver a esperar” – disse o poeta. Talvez não sejam as expectativas que nos ensombram a vida. Livres do seu jugo, podemos abandonar-nos à simplicidade dos dias.


quarta-feira, 23 de março de 2016

Da versatilidade das árvores

No Inverno trazem do musgo o verde que perderam. Às vezes são frutos, outras vezes música: quando escondem pássaros. Sabem ser donas da luz e espelharem-se na água. Ao pôr-do-sol inventam magia.








segunda-feira, 21 de março de 2016

ESTAÇÕES - V

A Primavera gosta das cores vivas. Do soturno Inverno aprecia o bom gosto em manter o verde: na nudez dos troncos, na solidez dos muros, no renovar dos pastos. Ao Outono rouba a inspiração dos pigmentos que desfalecem as folhas, que mistura numa nova palete, mais ao seu modo. E tudo derrama nas flores. As flores, que no seu virtuosismo, se oferecem aos frutos de um Verão que se avizinha.
















domingo, 20 de março de 2016

PEIXES

Estes são já aqui nascidos: não conheceram aquário. Nadam num bailado de água fresca.









sábado, 12 de março de 2016

BRAÇOS

Estes braços que te envolvem
Gastos de tantos abraços
Cansados dos longos Invernos
Rasgam-se na Primavera
Para deleite do teu olhar.





sexta-feira, 11 de março de 2016

CHOCOLATE

- Diz-me coisas bonitas. – Disse ela.
A única coisa bonita que lhe ocorreu dizer foi que gostava mais dela do que chocolate. Não foi uma boa opção, tendo em conta que ele, como ela bem sabia, não gostava de chocolate.


segunda-feira, 7 de março de 2016

domingo, 6 de março de 2016

VIOLINO

Não era de palavras a sua conversa. Por isso, quando foi preciso despedir-se, só encontrou o que dizer nas notas do violino.


sábado, 5 de março de 2016

OPINIÃO

Opinava muito. Era uma tarefa que lhe dava muito trabalho, porque procurava estudar a fundo os mais diversos assuntos. Mas nada lhe dava tanto prazer: ter sempre algo a dizer qualquer que fosse o assunto, nunca ser apanhado de surpresa, quer a conversa fosse sobre intricados temas filosóficos, sobre o habitat das minhocas, ou sobre as tricas e laricas das notícias de cordel.

Onde chegava, rapidamente se tornava o centro das atenções, com o discurso fluido do perito. “Como é que ele sabe tanta coisa?”: ouvia murmurar à sua volta e sentia-se invadido por uma onda de satisfação. O problema é que, pouco a pouco, percebeu que os outros se afastavam.


Corria o risco de acabar a falar para as paredes. Para que isso não acontecesse resolveu adoptar um gato: é bom ouvinte e se, por acaso, resolve contrapô-lo, cinge-se a uns breves miados.


sexta-feira, 4 de março de 2016

AFECTOS

Primeiro, banalizámos a palavra amor. Fizemos dela nome próprio, parangona publicitária, dia marcado para mostrar o quanto amamos.
Depois, foi a palavra amigo. Dissipámos tanto a fronteira entre o real e o imaginário que entrámos na loucura dos afectos. Ao ponto de, para nos aproximarmos ou afastarmos, bastar clicar num botão.



quinta-feira, 3 de março de 2016

Final feliz

Apagar-se devagarinho. Despedir-se lentamente como a chama de uma vela. De preferência acompanhado ou, pelo menos, sem sentir sozinho. Essa sim, seria uma boa maneira de terminar a história.


quarta-feira, 2 de março de 2016

VIDA - II

Nada lhe corria bem. Ou, pelo menos, como esperara. A vida dera tantas voltas que, por momentos, julgou voltar ao princípio. Mas o enredo fez-se claro quando decidiu ser feliz.


terça-feira, 1 de março de 2016

OLHARES

Na inutilidade das palavras (que às vezes ainda pronunciamos, no vício da ininteligibilidade da comunicação humana) entregamo-nos ao olhar.