Correm as lágrimas. Deixa-as correr. Deixa fluir a mágoa. Desse rio que tudo arrasta, o sorriso irá nascer.
domingo, 30 de setembro de 2012
quarta-feira, 26 de setembro de 2012
O outro
Há o meu pai e o outro, que agora nele vive. Neste conflito, que é também o meu conflito, refugio-me nas memórias, nas fotografias espalhadas pela casa. Não quero que o outro se apodere de mim.
segunda-feira, 24 de setembro de 2012
Começa o dia
O meu
Porto desperta. Ao fundo a ponte da Arrábida, num contraluz de nuvens acesas.
Atravessam-na automóveis que parecem de brinquedo.
Há
qualquer coisa de mágico no voo das gaivotas. Gritos de liberdade atravessam a
alvorada.
Fotografia de Mário Gomes |
Um
cão atravessa a rua disparado atrás de um gato preto. Salvo pelo muro, o gato
levou a melhor.
Deslumbro-me
neste instante. Até que chega o autocarro.
sábado, 22 de setembro de 2012
O fotoperíodo da lucidez
Sou
uma pessoa mais lúcida quando acordo. Vá-se lá saber porquê, é naquele limbo
entre os sonhos nocturnos e o despertar, às vezes mesmo atravessando a insónia,
que os meus pensamentos se clarificam, que a vida se dispõe a uma análise
clínica, uma capacidade que se perde ao longo do dia.
Sou
assim. Não me peçam grandes discernimentos ao fim do dia. Nada. Não sou capaz
de analisar criteriosamente qualquer problema a resolver, com a distância e a
imparcialidade que ele exija. Deixo-me dominar por todas as emoções e vivências
do dia, qual borboleta tonta que invariavelmente bate contra a lâmpada acesa.
sexta-feira, 21 de setembro de 2012
A velha
Sentada
no banco. Sozinha. O dia ainda mal acordou. As mãos enrugadas, com as fissuras
que o frio não perdoa, retiram algumas migalhas do não menos enrugado saco de
plástico.
Tremulamente
são lançadas no passeio. E o arrulhar, terno embalo, vai-a envolvendo.
Esvoaçam, saltam frenéticas, estas amigas de asas. Procuram o pão que a velha
cedeu, para ganhar o seu carinho.
quarta-feira, 19 de setembro de 2012
Acupunctura
Dos
outros cubículos chegam-me vozes, queixas, dores. As perguntas a que até agora
ninguém respondeu. A esperança de cura em múltiplas histórias de sofrimento
crónico.
Lentamente,
deixo as palavras perderem-se na música suave que me envolve. E quase adormeço...
quarta-feira, 12 de setembro de 2012
Poemas com rima - Sr. Ministro
Em consciência
E sem trapaça
Diga Excelência
O que se passa.
É a insolvência
Que nos ameaça?
Tenha lá paciência
Já estamos em desgraça.
Mais uma cedência
Que nos ultrapassa
Tenha decência
Tire a quem tem massa.
Às PPPs deve obediência?
Aos que vivem na rabaça?
Não é preciso muita ciência
Para acabar com esta chalaça.
sábado, 8 de setembro de 2012
O som do mar
quinta-feira, 6 de setembro de 2012
Bom dia, Mia
Bom dia, Mia
Pedacinho de alegria
És a nossa companhia.
Andas à caça da traça
Da borboleta que passa
E depois vem a rabaça.
Mas quando a casa chegamos
Lá nos vens receber
Espreguiçando-te até mais não poder.
quarta-feira, 5 de setembro de 2012
Poemas - Entre mim e ti
Entre mim e ti
há um universo
construído
uma sintonia
que não carece de
palavras.
Como na melodia
em que o andamento
seguinte
se adivinha
se adivinha
a tua alma rima com a
minha.
terça-feira, 4 de setembro de 2012
Poemas com rima – Porque escrevo
Escrevo
Porque vivo
Porque sinto todo o enlevo
Todo o crivo
Toda a emoção que me envolve
Tudo o que não se resolve.
E às palavras confio
Numa escrita tão incerta
Todo esse desvario
Que só assim se liberta.
segunda-feira, 3 de setembro de 2012
A terceira idade, a segunda infância
Duas
classificações para o mesmo estado, que no entanto são deveras antagónicas.
Se a
primeira dá ideia de maturidade, a segunda é manifestamente uma descida de
posto. É uma comparação perversa, pois perdemos a inocência, a candura, a
curiosidade que caracterizavam a infância.
Os
comportamentos infantis não a devolvem (a relatividade do tempo não chega a
esse requinte), e não são mais do que actos de desespero.
domingo, 2 de setembro de 2012
O quarto da minha infância
Este
é o quarto da minha infância.
Alguns
móveis mudaram, há objectos que não me pertencem. Mas permanece o fio que
acende o candeeiro em cima da cama. O que me deu autonomia para ir sozinha à
casa de banho durante a noite.
O meu
corpo já não é o corpo desse tempo. O do meu pai também não. Preso num corpo
que já não lhe obedece, que já não o respeita, e que o maltrata com uma dor
constante.
Custa
ver chorar os filhos, mas não custa menos ver chorar os pais. As suas lágrimas
perdem-se nas minhas.
Não
podemos sequer fingir acreditar num novo dia, a sua lucidez não o permite.
Acaricio-lhe
o cabelo, a face, as mãos outrora tão poderosas. E desejo-lhe a paz, neste
quarto pleno dos testemunhos desse poder.
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