Este
é o quarto da minha infância.
Alguns
móveis mudaram, há objectos que não me pertencem. Mas permanece o fio que
acende o candeeiro em cima da cama. O que me deu autonomia para ir sozinha à
casa de banho durante a noite.
O meu
corpo já não é o corpo desse tempo. O do meu pai também não. Preso num corpo
que já não lhe obedece, que já não o respeita, e que o maltrata com uma dor
constante.
Custa
ver chorar os filhos, mas não custa menos ver chorar os pais. As suas lágrimas
perdem-se nas minhas.
Não
podemos sequer fingir acreditar num novo dia, a sua lucidez não o permite.
Acaricio-lhe
o cabelo, a face, as mãos outrora tão poderosas. E desejo-lhe a paz, neste
quarto pleno dos testemunhos desse poder.
Lindo o texto, que é uma verdadeira homenagem a teu pai, o artista Dario Boaventura. adorei!!!
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