De olhos fechados, no
abandono do corpo, tentava libertar-se de pensamentos. Intenso, desenhou-se
apenas um, agarrado à profundeza da água: voltar para casa. Talvez isso
explicasse os redemoinhos da vida, talvez o seu tempo tivesse terminado.
Deu consigo a atravessar
ruas como se fosse ser trucidado, a apreciar as pequenas rotinas na fatalidade
de poderem ser as últimas.
Economizava palavras, entregando-se
à liberdade dos sons: as palavras dos outros, a música das ruas, os acordes
inaudíveis.
Apercebeu-se que podia
voltar para casa de olhos abertos: na folha que cai, no encanto da chuva, na
dádiva do gesto. Em cada dia. Todos os dias.