No
Metro. Um homem e uma mulher. Conversam.
Ela,
na atitude tipicamente feminina. Ajeita-lhe a gravata. Diz que também ela
escolheu uma gravata de homem, porque é mais fácil de tirar e pôr sem desfazer
o nó.
Ajuda
uma senhora que entrava fora de tempo, barrando o fecho das portas. Ele diz-lhe
depois que não deve fazer isso, pode vir a ter problemas. Ela diz que é melhor
barrar as portas do que ter um cliente magoado, a senhora já ia ficar com a mão
presa.
Atende
o telefone. Brinca. Deixa cair a garrafa da água, que na queda quase lhe parte
alonga unha pintada de rosa. Pragueja.
Conta
que há poucos dias, porque estava encostada à porta, quando esta se fechou
prendeu-lhe o carapuço, e ela ficou presa pelo pescoço mesmo quando ia iniciar
a fiscalização. Ficou tão envergonhada…
Eu,
que ando desde o dia 31 de Dezembro (a noite em que um dos meus filhos foi
estupidamente multado), a contar as vezes que sou fiscalizada (já agora,
dezassete), dou por mim suspensa deste diálogo, em si igual a tantas outras
conversações que presencio diariamente.
Será
que, quando iniciarem a fiscalização, se vão transfigurar, adquirindo o ar
profissional, e pouco humano, de quem anda a ver se nos portamos mal?