Sentia-se incapaz de pensar. As palavras, os pensamentos, continuavam a arrumar-se da forma habitual, dentro da cabeça, mas nada passava cá para fora.
Articulava um discurso repetitivo, vazio, incompreensível. Toda a capacidade de comunicar reduzida a uma gaguez que o assustava. E assustava ainda mais quem o tentava ouvir.
As palavras escritas também não ajudavam. Lia. Tinha consciência de que estava a ler, que os sinais eram descodificados, mas no final nada restava do que tinha lido. Não havia significado.
Em contrapartida os sons ganhavam novas dimensões, e os odores, até aí desapercebidos, começavam a incomodar.
Nesta fase a cabeça ainda não doía. Havia as luzinhas, é certo, o campo visual desfocado, mas ausência de dor. O que tornava, o que é conhecido como enxaqueca, uma entidade ainda mais estranha.
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