Se há
alguma coisa que se espera de um código é que seja preciso. Para confusão já
chega a linguagem. Palavras iguais que querem dizer coisas diferentes. Com
sorte, mudam de vestes quando são escritas, outras nem isso. E passa a ser tudo
uma questão de contexto.
Parece,
por isso, assaz estranho, que o código que encerra o nosso património sofra do
mesmo mal. Prestar-se a confusões. Esperava-se qualquer coisa mais matemática,
onde dois mais dois são quatro, e não quatro e meio, ou quase cinco.
Pois
bem, o código genético tem sinónimos, e por isso foi batizado de degenerado.
Palavra (e de palavras falávamos) que traduz bem o desprezo que esta
constatação suscitou.
Neste
código, cada três letras (um tripleto) corresponde a um bloco de construção,
chamado aminoácido, o equivalente a uma palavra. Temos aproximadamente vinte,
matéria-prima importante no fabrico dos seres vivos.
Ora o
problema é que o mesmo bloco pode ser codificado por várias “palavras” (tripletos)
diferentes. Pode mudar a terceira letra do tripleto e continuamos a produzir o
mesmo bloco. Porque raio, então, esta sinonímia aparentemente descabida, num
código que se pretendia preciso, e não literário?
A
situação é simples. As alterações no código (mutações) são comuns, e nem sempre
são reparadas a tempo. Algumas ficam e podem trazer danos. Isso poderia levar à
produção de blocos errados que, numa casa, seria como colocar uma porta no
lugar da janela.
Assim
sendo, pode acontecer que a terceira letra do tripleto se altere, mas o bloco produzido
continue a ser o mesmo, apesar da falha no sistema de reparação, graças aos
benditos dos sinónimos. E é precisamente esta qualidade de código degenerado
que vai permitir salvar a construção!
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