sábado, 2 de junho de 2012

O código genético


Se há alguma coisa que se espera de um código é que seja preciso. Para confusão já chega a linguagem. Palavras iguais que querem dizer coisas diferentes. Com sorte, mudam de vestes quando são escritas, outras nem isso. E passa a ser tudo uma questão de contexto.

Parece, por isso, assaz estranho, que o código que encerra o nosso património sofra do mesmo mal. Prestar-se a confusões. Esperava-se qualquer coisa mais matemática, onde dois mais dois são quatro, e não quatro e meio, ou quase cinco.

Pois bem, o código genético tem sinónimos, e por isso foi batizado de degenerado. Palavra (e de palavras falávamos) que traduz bem o desprezo que esta constatação suscitou.

Neste código, cada três letras (um tripleto) corresponde a um bloco de construção, chamado aminoácido, o equivalente a uma palavra. Temos aproximadamente vinte, matéria-prima importante no fabrico dos seres vivos.



Ora o problema é que o mesmo bloco pode ser codificado por várias “palavras” (tripletos) diferentes. Pode mudar a terceira letra do tripleto e continuamos a produzir o mesmo bloco. Porque raio, então, esta sinonímia aparentemente descabida, num código que se pretendia preciso, e não literário?

A situação é simples. As alterações no código (mutações) são comuns, e nem sempre são reparadas a tempo. Algumas ficam e podem trazer danos. Isso poderia levar à produção de blocos errados que, numa casa, seria como colocar uma porta no lugar da janela.

Assim sendo, pode acontecer que a terceira letra do tripleto se altere, mas o bloco produzido continue a ser o mesmo, apesar da falha no sistema de reparação, graças aos benditos dos sinónimos. E é precisamente esta qualidade de código degenerado que vai permitir salvar a construção!

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