Cozinhar é para mim a tarefa mais interessante das lides domésticas. Porque é uma actividade criativa, que necessita de espírito de iniciativa, curiosidade, trabalho experimental.
Com a vantagem, em relação à ciência, de nos permitir o pleno usufruto do trabalho final.
domingo, 29 de janeiro de 2012
sexta-feira, 27 de janeiro de 2012
A gata na caixa
Já teve resmas de papel. Ia para o lixo mas a Mia adoptou-a.
De vez em quando entra suavemente dentro dela e fica a olhar para nós, como quem diz, este espaço é meu. Dona de si mesma, observa, sobranceira, as nossas frenéticas actividades. Provavelmente interroga-se sobre o que nos faz correr.
A Mia na caixa. Não me incomodem. Estou muito bem no meu ponto de vigia.
Também eu, às vezes, gostava de uma caixa assim.
quinta-feira, 26 de janeiro de 2012
PERSIANAS
Era uma vez um rapaz que não gostava de abrir persianas. Não porque não gostasse de luz, ou quisesse prolongar a noite, mas porque era muito distraído.
Primeiro não abria a persiana porque ainda não se tinha vestido. Acendia a luz. Depois, sentado no computador, não dava pelo dia lá fora. Porque não precisava da luz do dia para nada. Até atrapalhava. A sua luz era a do écran do computador e a da sua imaginação.
Se em vez disso saía, era ele que ia para o dia lá fora, e deixava para trás a escuridão dentro do quarto.
Se alguém lhe dissesse: “Porque não abriste a persiana?”, encolhia os ombros, não sabia. Na verdade nem tinha dado por isso.
terça-feira, 24 de janeiro de 2012
INTUIÇÃO FEMININA
Um dos aspectos interessantes da biologia é a revelação de como estamos próximos das nossas raízes.
Sabemos hoje que os cérebros humanos possuem género, com algumas áreas diferentemente desenvolvidas no homem e na mulher. Tal diferença constitutiva, poderá finalmente explicar algo que sabemos há muito do senso comum, e que se tem materializado numa, às vezes pouco saudável, guerra dos sexos – os homens e as mulheres vivem mundos diferentes.
O homem, com mais massa muscular e livre da tarefa da gestação, trazia o sustento para o lar, o que hoje seria o ordenado, mas que outrora se traduzia em peças de caça. Como tal, desde os nossos primórdios necessitou de uma boa orientação espacial e de ser competente naquilo que fazia, pois dele dependia a sobrevivência da família. A mulher tratava da descendência e das colheitas e, saber o que um pequeno ser ainda mudo desejava, era tarefa que exigia capacidades sensoriais mais aperfeiçoadas.
Não admira, portanto, que a mulher se aperceba facilmente dos pormenores em relação aos que a rodeiam, uma espécie de leitura nas entrelinhas, vulgarmente conhecida por intuição. Para assegurar o seu papel de vigilante do ninho, esta capacidade era de suprema importância. Detectar atempadamente as mais subtis mudanças no comportamento da sua progenitura poderia fazer toda a diferença nas questões de sobrevivência.
Tais diferenças, hoje poderão não ser mais do que um resíduo evolutivo, dadas as mudanças radicais no nosso modo de vida. Já não é o homem o único caçador nem a mulher a fada do lar. Mesmo que a gestação ainda seja um empreendimento exclusivamente feminino, pode ser controlada graças à contracepção. Por isso, algumas atitudes femininas na escolha da cara-metade, adquiridas provavelmente graças à evolução, tenderão a diluir-se ao longo do tempo. O encontro sexual deixou de desaguar na reprodução – actividade que todavia continua a implicar um grande investimento da fêmea humana – pelo que as relações fortuitas começam a deixar de ser a imagem de marca do sexo masculino.
Todavia as diferenças ainda transparecem. Ironicamente fala-se cada vez mais delas, ao mesmo tempo que se prega a igualdade entre os sexos. E voltamos à intuição feminina, aquela estranha magia que permite a uma mulher perceber o que está a acontecer num ambiente em que acabou de entrar. Para um homem essa é uma tarefa árdua, que carece de sinalização mais óbvia, como lágrimas, gritos ou sorrisos.
O que para mim é curioso é encontrar algo de semelhante noutros animais, as tais raízes. Não costumamos apreciar muito essa proximidade, promiscuidade diriam alguns. É habitual considerarmo-nos no topo da evolução, suficiente distantes para encararmos os outros animais, mesmo os primatas, como pobres tentativas de imitação.
O tentilhão listrado aprende a reconhecer o sexo oposto confiando nas observações que faz do aspecto dos outros tentilhões, iniciando essa jornada de aprendizagem tendo os seus progenitores como modelo.
Alguém já tentou trocar-lhes as voltas. Utilizou tentilhões albinos, em que a única diferença aparente indicadora do género é a cor do bico, colocando machos recém-nascidos a viverem com progenitores cuja cor do bico foi trocada. Quando estes machos atingiram a maturidade foi-lhes permitido tentar acasalar, numa gaiola que tinha acopladas, uma de cada lado, duas outras gaiolas com tentilhões estímulo. O nosso tentilhão enganado escolhia para acasalar o tentilhão estímulo cujo bico fosse da cor do da sua mãe.
Não podendo aceder à intimidade da potencial companheira confiava na sua aprendizagem visual. O sinal apelativo era a cor do bico, mesmo que na realidade o pudesse levar a gastar as suas energias tentando cativar outro macho.
Mas o interessante nesta história surgiu quando a experiência foi repetida com tentilhões fêmea. Chamemos-lhe ou não intuição feminina, o certo é que as damas não se deixaram enganar, preferindo ser cortejadas por verdadeiros machos, mesmo que estes se apresentassem de bico travestido. De alguma forma não se deixavam iludir com as aparências, utilizando outro tipo de observação, quiçá o comportamento do candidato a pretendente.
É que, convém não esquecer, a fêmea tem menos oportunidades, relativamente ao macho, de produzir descendentes. Fabricar ovos, chocá-los e alimentar recém-nascidos é um processo muito mais moroso do que o fugaz depositar de alguns milhares de espermatozóides.
Assim sendo, a tal capacidade de ler nas entrelinhas e fugir ao logro, é uma mais-valia que qualquer fêmea que se preze deve utilizar.
São inúmeros os exemplos como este, em que as fêmeas, relativizando as falsas aparências, confiam nalguma misteriosa capacidade de ver mais além. Até as humanas.
sábado, 21 de janeiro de 2012
POBREZINHO
Era uma vez um presidente que era pobrezinho. Mas não fazia muito mal porque o país onde vivia também era pobrezinho.
E porque é que era pobrezinho? Porque só tinha duas reformas, uma que era baixinha e outra que era assim, assim, mas ele até não sabia bem quanto era.
Felizmente tinha poupanças, porque tinha uma esposa muito poupadinha, que já o aturava há várias décadas. Mas estava a gastá-las, porque, desgraçadamente, as reformazinhas não davam para as despesas.
Mas o presidente era feliz. Além da esposa dedicada, vivia no tal país onde todos eram assim mais ou menos pobrezinhos como ele. Se calhar um bocadinho mais… Mas isso são pormenores. E ele acha que ficou bem na fotografia…
sexta-feira, 20 de janeiro de 2012
CONDUZIR
Tenho dificuldade em guiar. E muito mais agora, depois que fui abalroada por uma ambulância do INEM, e o meu Fiat Seicento foi parar à sucata. (Por pouco não ia eu também).
Nunca senti vontade de me sentar ao volante, pôr o cinto, rodar a chave na ignição, e aqui vou eu. Já houve quem dissesse que isso era sinal que eu nunca tinha querido conduzir a minha vida…
Quando me decidi finalmente a conduzir, era com inveja que eu observava o à vontade com que as outras pessoas, mais concretamente as outras mulheres, executavam indiferentes todos estes pequenos gestos. Também eu acabei por me parecer com elas. Parecer, digo bem. Porque nunca resolvi a questão de me ser difícil estacionar, calcular distâncias, saber onde estou. Pequenos detalhes de orientação espacial.
Mais tarde vim a descobrir que não serei a única. Existem diferenças de género neste aspecto particular (bem em como em muitos outros…).
Estudos vários têm mostrado que as mulheres experimentam mais dificuldades do que os homens nas tarefas de orientação espacial. Trata-se de uma questão de necessidade. Nos primórdios do aparecimento da nossa espécie era o homem que caçava, por isso era imprescindível para a sobrevivência que ele soubesse voltar para casa. Tal como era, no caso da mulher, intuir as necessidades da sua cria, para melhor dela cuidar.
O mesmo se observa em muitos animais, em que também por norma os machos apresentam melhor desempenho nas tarefas de orientação espacial. Mas o oposto também acontece.No pássaro da espécie Molothrus ater, é a fêmea que procura extensamente ninhos de outras aves para parasitar. Tem também de se lembrar onde as vítimas potenciais iniciaram os seus ninhos de forma a regressar a eles vários dias mais tarde, quando já pode pôr o seu ovo junto dos que foram já postos pela ave parasitada. Por sua vez, o macho não tem de enfrentar estes difíceis problemas espaciais. Por isso mesmo a fêmea tem a zona do cérebro responsável por esta tarefa (o hipocampo) mais desenvolvida que a do macho. Estas diferenças não se verificam em parentes não parasitas desta espécie.
Portanto, como diria a minha avó, não é defeito, é feitio.
Não é todavia grande consolação quando tenho de ir a pé porque teimo em deixar o carro na garagem.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZqqPAWqrRNZ7CGBDaIVQcNIqHM8PPrnkeozTd-DcY1ftACSl4Tw2ImHUGHMIQjDua49oKsycvFzWBF3ZaKn9Gih_rjb1Zyx_lvailwEHO9AgoBzBjlwe5PtEQqbLDR2eqMo1H6Q-HT2U/s200/bird+2.jpg)
terça-feira, 17 de janeiro de 2012
INSÓNIA
Existe uma hora da noite em que os problemas te atacam.
Qual alcateia, tal como os lobos em grupo, cercam a presa – o teu cérebro. E ainda que o teu corpo peça misericórdia, clame pelo merecido sono, os pensamentos não perdoam. Envolvem-te, enredam-te, despertam-te, até ao buraco sem saída chamado insónia.
sexta-feira, 13 de janeiro de 2012
Sentado no metro
Sentado no metro, muito hirto, os vincos impecáveis nas calças, a gravata a condizer com a camisa, a pasta de couro, com os olhos azuis a olhar em frente.
Reparei nele pelo penteado. Parco de cabelo, mais propriamente quase careca, fez na cabeleira rala um risco lateral, muito mais abaixo do que é habitual, para que os poucos, mas compridos cabelos, pudessem cobrir a não assumida careca. E os cabelos portavam-se à altura do que lhes era pedido. Poucos, mas unidos, quase colados uns aos outros, faziam um tapete, ou um capachinho natural. Só não era um capachinho porque, tal como gato escondido com o rabo de fora, permitiam ver (até me atrevo a dizer realçar) o luzidio couro cabeludo.
Foi essa divergência que me fez olhar para ele e pensar como ficaria bem melhor se rapasse o cabelo todo.
segunda-feira, 9 de janeiro de 2012
Nasceu hoje...
Nasceu hoje um pintainho. Nunca tinha visto. Comecei por ouvir o barulho do seu intenso debicar. Como quem bate à porta, olá a todos, quero sair. Depois o ovo começou a agitar-se, apareciam as primeiras brechas na casca.
O processo é demorado, um bom treino à impaciência. Sai parte da casca, quebra-se a membrana, e emerge um biquinho húmido. Depois a cabecinha, e um ser trôpego, molhado e, verdade seja dita, bem feiinho, consegue finalmente evadir-se da sua prisão. Ouve-se um tímido piar…
Mas deixem passar uns minutos, umas horas, e verão uma avezinha fofa a avançar pelo mundo.
domingo, 8 de janeiro de 2012
sexta-feira, 6 de janeiro de 2012
La Fontaine
La Fontaine tinha umas boas fábulas, é verdade, lembro-me de ouvir várias vezes a da cigarra e da formiga, muito adequada para nos incentivar a trabalhar e a cumprir, e assim termos a comida, ou as poupanças, para o Inverno.
Infelizmente não se aplicam ao nosso país, o tal que está à beira-mar plantado e que é de brandos costumes. E o exemplo vem logo do estado.
O La Fontaine não era português, muito menos um português que esteja em posição de dominar o outro. Assim, o La Fontaine acreditava que trabalhar, produzir, ser honesto, etc. compensava. Quem melhor para exemplificar tudo isto que a formiguinha, direitinha no carreiro, sempre, sempre, a correr, diligente. É verdade que há a rainha, sostra, gorda até dizer chega, que não faz nenhum. Mas que diabo, também produz toda a prole, a futura massa trabalhadora, e sem ter se mexer do sítio. Bem vistas as coisas, como organização, não parece mal de todo, e todas têm o que comer, segurança (social?), e por conseguinte devem ser felizes.
A cigarra não faz nenhum (obviamente que depende do ponto de vista, já que o próprio La Fontaine deixou em aberto que a sua cantoria alegrava as formiguinhas e, convenhamos, que não há nada mais bonito do que a alegria no trabalho). Não tem portanto, uma profissão de jeito, a abnegação da formiga, não poupa, e quando chega o Inverno está à rasca. Aí bate à porta da formiga e leva com os pés.
Mas no país à beira mar (mal?) plantado não é assim. São as formigas que levam no pêlo (ou na quitina) e as cigarras cantam, cantam, e conseguem os melhores lugares.
quarta-feira, 4 de janeiro de 2012
FORMIGAS SUICIDAS
Estranho fenómeno, este, que me foi dado observar. Na casa do Gerês, entrando pela janela da casa de banho do segundo andar, num carreiro obediente, as formigas avançam em direcção à tijoleira. Até aqui, nada demais. Não é o que as formigas parecem estar sempre a fazer?
O meu espanto reside no amontoado de cadáveres no chão da casa de banho, imediatamente abaixo da janela. Como a casa está desabitada a maior parte das vezes, a minha explicação, perante tantas formigas defuntas, foi que tivessem morrido de fome. Explicação algo ingénua, tenho de reconhecer, pois se assim fosse, porque não teriam elas saído pelos mesmos orifícios que usaram para entrar?
Para melhor averiguar o fenómeno, varri de imediato o chão da casa de banho, e sem qualquer ritual fúnebre, deitei todas as formigas no lixo. Quando voltei à casa de banho, novamente observei cadáveres, no mesmo local, apenas em menor quantidade. Ou seja, formigas acabadinhas de chegar, que por uma qualquer razão que não consigo descortinar, sofrem uma síncope fatal quando atingem o chão da casa de banho. Repeti esta operação várias vezes durante o fim-de-semana, sempre com o mesmo resultado.
Sem apelo nem agravo, o carreiro de formigas continuava a avançar em direcção ao abismo. Estranho fenómeno este, que me fez recordar algumas atitudes humanas, para as quais, verdade seja dita, também não encontro uma convincente explicação.
terça-feira, 3 de janeiro de 2012
ENVELHECER
Actividade incontornável, inscrita em cada uma das nossas células, conduz inevitavelmente à morte. A célula envelhecida (senescente) sinaliza a sua decrepitude e assim, com dignidade, sem efeitos colaterais, é eliminada do sistema. De uma forma programada, e bem concebida, o seu declínio traz juventude ao sistema, que assim continuamente se renova. Graças a esta morte, conhecida como apoptose, habitamos um invólucro que, a nível celular, pouco partilha com a versão original, mantendo todavia a sua identidade. Muito eficaz.
Esta aparente candura a nível celular, já que os mecanismos em si são por demais complicados, não tem paralelo no indivíduo. O nosso corpo não apresenta esta forma “pacífica” de envelhecer e, finalmente, morrer.
Será difícil que aceitemos de forma honesta, que admitamos para nós mesmos, que o envelhecimento e a morte são fenómenos aprazíveis e necessários ao bom funcionamento do grupo humano, tal como o são para as células do organismo. Podemos disfarçar com os lugares comuns como “velhos são os trapos”, ou que a velhice traz sabedoria, mas na verdade, qual é a vantagem para nós mesmos de envelhecermos? Qual a vantagem de lentamente perdermos a capacidade de ver sem óculos, de já não nos movemos tão bem como era habitual, de não podermos comer tudo o que gostávamos, de não conseguirmos dormir uma noite seguida, de começarmos a sentir dores várias, até em locais que não conhecíamos? Porque não, como as nossas células, mantermos as funções íntegras até morrer, em vez de acumularmos próteses e outros aditamentos, até finalmente desaparecermos?
Há todavia uma parte de nós, e verdade seja dita a mais importante, que parece contrariar esta tendência. Contrariamente à visão, que não consegue acompanhar o prolongamento da nossa existência, o cérebro tem outra história. É certo que envelhece, e para alguns até de forma dramática, mas ao mesmo tempo, sabemos agora, conserva grande plasticidade. É graças a ela que alguns de nós conseguem recuperar funções perdidas, por exemplo em acidentes de viação ou vasculares. Por isso aprender coisas novas é tão importante ao longo de toda a vida, para aproveitar e desenvolver esta plasticidade. O cérebro velho não é só memórias e sabedoria, continua a ser curiosidade. E lá voltamos aos lugares comuns - “aprender até morrer”.
segunda-feira, 2 de janeiro de 2012
CONHECI A MARIA
Conheci a Maria na escola primária e ela sentava-se na carteira ao meu lado. Era muito bonita e tinha muitos amigos, mas, não sei porquê, gostava muito de molhar o dedo na tinta do tinteiro e esfregá-lo no meu livro de francês. Fazia com isso buracos e eu ficava triste porque gostava de ter os livros direitos. Não sei porque fazia isso, não sei se era porque eu gostava tanto de ter as minhas coisas bem arranjadas e gostava de estudar, e se calhar ela não. Para eu não contar nada, dizia que ia falar com o amigo dela, o João, e que ele depois me batia. E eu não dizia nada. Isto só acabou quando, um dia, a professora me viu a chorar e a mancha no livro.
Só voltei a encontrar a Maria muitos anos mais tarde e a primeira e única coisa que me veio à cabeça foram estas imagens. Ela falou muito, eu ouvi, mas não me ocorreu perguntar o que era feito dela. Só via os buracos do meu livro.
domingo, 1 de janeiro de 2012
VIOLONCELO
Dei por mim a achar que aprender violoncelo podia ser a melhor coisa do mundo. Para o que ajudou ter alguém que ensina empenhado em que eu aprenda.
Não interessa, pois, se alguma vez vou tocar a sério, se já só teria idade para ouvir quem sabe tocar, em vez de querer aprender.
No esforço de dominar os dedos, o arco, as notas que mal conheço (onde já vai a parca formação musical…), sinto a capacidade de conquistar este desafio. Até porque, desta vez, foi imposto por mim, não é um revés da vida, não é necessidade de sobreviver, não é para provar nada a ninguém.
Senti necessidade de aprender a tocar, como sinto de cantar, porque a música me emociona, me transporta a um lugar de onde não quero sair. É mais do simplesmente ter o prazer de ouvir. Tocar leva-me para dentro da música. Mais ainda seria compô-la. O sonho, tocar numa orquestra.
Olho para os calos que despontam nos meus dedos da mão esquerda. Os dedos com que me zango, porque teimam em não obedecer prontamente ao meu cérebro. Dou por mim na rua a colocar a mão na posição mais adequada, a entoar intervalos. Como outrora a dança, também esta passagem deixa as suas marcas. São bem-vindas.
Começar agora o violoncelo, ou há tantos anos atrás a dança, traz-me o mesmo contentamento. A satisfação de aprender, de transformar o esforço, o treino, num produto final que se possa apreciar.
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