Dei por mim a achar que aprender violoncelo podia ser a melhor coisa do mundo. Para o que ajudou ter alguém que ensina empenhado em que eu aprenda.
Não interessa, pois, se alguma vez vou tocar a sério, se já só teria idade para ouvir quem sabe tocar, em vez de querer aprender.
No esforço de dominar os dedos, o arco, as notas que mal conheço (onde já vai a parca formação musical…), sinto a capacidade de conquistar este desafio. Até porque, desta vez, foi imposto por mim, não é um revés da vida, não é necessidade de sobreviver, não é para provar nada a ninguém.
Senti necessidade de aprender a tocar, como sinto de cantar, porque a música me emociona, me transporta a um lugar de onde não quero sair. É mais do simplesmente ter o prazer de ouvir. Tocar leva-me para dentro da música. Mais ainda seria compô-la. O sonho, tocar numa orquestra.
Olho para os calos que despontam nos meus dedos da mão esquerda. Os dedos com que me zango, porque teimam em não obedecer prontamente ao meu cérebro. Dou por mim na rua a colocar a mão na posição mais adequada, a entoar intervalos. Como outrora a dança, também esta passagem deixa as suas marcas. São bem-vindas.
Começar agora o violoncelo, ou há tantos anos atrás a dança, traz-me o mesmo contentamento. A satisfação de aprender, de transformar o esforço, o treino, num produto final que se possa apreciar.
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